No trabalho, esperando a hora passar, escrevendo e fazendo alguns ajustes. Estou curtindo trabalhar onde trabalho, é um campus mais aberto da Universidade, com algumas matas ao redor, e um grande rio que proporciona uma bela vista toda vez que subo para as salas de aula que preciso ir. Todas as tardes o sol bate na minha janela, aquece a sala e aí eu saio, dou uma caminhada observando o campo de futebol, os estudantes, a cantina. As vezes paro em frente à capela que existe aqui no campus e rezo um pouco. Em outras tardes de sol, fujo alguns minutos da minha sala e vou até o prédio da música, que é um prédio novo e bonito. Existe uma espécie de concha acústica nesse prédio e os estudantes e professores ficam estudando e ensaiando - piano, canto, violencelo, violino. Pelo lado de fora dessa concha acústica existe um vidro e uma espécie de semi arena, um círculo gramado circundado por degraus de concreto, de onde é possível ver o interior da concha. Gosto de correr até lá e respirar, as vezes escutando a música, as vezes meditando, outras vezes fumo um cigarro ou observo as estufas e canteiros da EPAMIG que fica logo em frente. Também gosto de sentar ali pra meditar e observar os pássaros e o céu. Existe uma espécie de passarinho nesse lugar que é muito peculiar é um passeriforme, que é o nome dado à Classe desses passarinhos.... passarinhos! Pequenos, que cantam. E ali em frente ao prédio de música sempre me encontro com um passarinho pequeno e com asas azuis celestes e cinzas, maravilhoso. Existe uma outra espécie também, branca e preta, linda.
Depois de alguns minutinhos de meditação, volto para a minha sala, conversando com um ou outro pelo corredor, resolvendo um problema aqui outro acolá.
É saudável.
Agora, com a expansão da Universidade vários prédios novos estão sendo construídos. Graças a Deus as construções que estão sendo feitas aqui no campus, fogem à lógica do restante da cidade, repleta de construções mal planejadas que fazem com que o espaço seja tomado por verdadeiras favelas. Aqui no campus os espaços livres e abertos e as paisagens estão sendo respeitados, então apesar do crescimento ainda é um lugar agradável de se estar. Podemos caminhar perto de matas. Ou caminhar entre os prédios, um é mais tradicional, contruído a partir de uma antiga escola e o outro, o prédio construído com recursos do REUNI é um prédio bastante arejado, com diversos laboratórios com atividades bacanas nas áreas de comunicação e teatro. Um restaurante universitário, que é prometido a anos, está finalmente ficando pronto e é em um outro local, mais distante, na área do campus.
E assim vou levando os dias. Estou lendo bastante também, retomei um antigo caso de amor com a Marion Zimmer Bradley, então tem sido um deleite. Aproveito os intervalos para curtir as leituras. E me sinto bem. Apesar de ainda ter intermináveis questionamentos sobre mim mesmo, sobre a vida e sobre a eficácia do processo terapeutico, em alguns momentos ainda sinto um sopro de novas esperanças, ainda sinto vontade de viver. Bem no fundo, permeado por uma série de medos, decepções, traumas e inseguranças, ainda existe uma pequena chama, verde, que me diz que posso ser feliz, que dei certo na vida, que sei amar, que sou bom, bom profissional, bom homem, bom amigo, bom estudante e também bom professor.
Essa chama as vezes cresce e vira labareda, outras vezes quase desaparece.
Mas vou fingir que ela nunca desaparece.