quinta-feira, 10 de novembro de 2011

PERSPECTIVAS

          No trabalho, esperando a hora passar, escrevendo e fazendo alguns ajustes. Estou curtindo trabalhar onde trabalho, é um campus mais aberto da Universidade, com algumas matas ao redor, e um grande rio que proporciona uma bela vista toda vez que subo para as salas de aula que preciso ir.  Todas as tardes o sol bate na minha janela, aquece a sala e aí eu saio, dou uma caminhada observando o campo de futebol, os estudantes, a cantina. As vezes paro em frente à capela que existe aqui no campus e rezo um pouco. Em outras tardes de sol, fujo alguns minutos da minha sala e vou até o prédio da música, que é um prédio novo e bonito. Existe uma espécie de concha acústica nesse prédio e os estudantes e professores ficam estudando e ensaiando - piano, canto, violencelo, violino. Pelo lado de fora dessa concha acústica existe um vidro e uma espécie de semi arena, um círculo gramado circundado por degraus de concreto, de onde é possível ver o interior da concha. Gosto de correr até lá e respirar, as vezes escutando a música, as vezes meditando, outras vezes fumo um cigarro ou observo as estufas e canteiros da EPAMIG que fica logo em frente. Também gosto de sentar ali pra meditar e observar os pássaros e o céu. Existe uma espécie de passarinho nesse lugar que é muito peculiar é um passeriforme, que é o nome dado à Classe desses passarinhos.... passarinhos! Pequenos, que cantam. E ali em frente ao prédio de música sempre me encontro com um passarinho pequeno e com asas azuis celestes e cinzas, maravilhoso. Existe uma outra espécie também, branca e preta, linda.
Depois de alguns minutinhos de meditação, volto para a minha sala, conversando com um ou outro pelo corredor, resolvendo um problema aqui outro acolá.
É saudável.
Agora, com a expansão da Universidade vários prédios novos estão sendo construídos. Graças a Deus as construções que estão sendo feitas aqui no campus, fogem à lógica do restante da cidade, repleta de construções mal planejadas que fazem com que o espaço seja tomado por verdadeiras favelas. Aqui no campus os espaços livres e abertos e as paisagens estão sendo respeitados, então apesar do crescimento ainda é um lugar agradável de se estar. Podemos caminhar perto de matas. Ou caminhar entre os prédios, um é mais tradicional, contruído a partir de uma antiga escola e o outro, o prédio construído com recursos do REUNI é um prédio bastante arejado, com diversos laboratórios com atividades bacanas nas áreas de comunicação e teatro. Um restaurante universitário, que é prometido a anos, está finalmente ficando pronto e é em um outro local, mais distante, na área do campus.
E assim vou levando os dias. Estou lendo bastante também, retomei um antigo caso de amor com a Marion Zimmer Bradley, então tem sido um deleite. Aproveito os intervalos para curtir as leituras. E me sinto bem. Apesar de ainda ter intermináveis questionamentos sobre mim mesmo, sobre a vida e sobre a eficácia do processo terapeutico, em alguns momentos ainda sinto um sopro de novas esperanças, ainda sinto vontade de viver. Bem no fundo, permeado por uma série de medos, decepções, traumas e inseguranças, ainda existe uma pequena chama, verde, que me diz que posso ser feliz, que dei certo na vida, que sei amar, que sou bom, bom profissional, bom homem, bom amigo, bom estudante e também bom professor.
Essa chama as vezes cresce e vira labareda, outras vezes quase desaparece.

Mas vou fingir que ela nunca desaparece.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

TERÇA FEIRA PLENA

A terça feira pode ser plena sim, mas preciso antes colocar algumas coisas pra fora.

Decepção. É uma coisa que, principalmente, me assusta.  Depois de alguns meses de terapia, comecei a aprender que não se deve esperar absolutamente nada de absolutamente ninguém. É uma espécie de mecanismo anti-decepção, se você nunca esperou nada do outro, o outro não tem como te decepcionar.

Mas tem horas que é difícil . Dois mecanismos os quais estou aprendendo a equilibrar, na minha relação comigo mesmo e com o mundo: quando por ventura começo a amar alguém e essa pessoa me maltrata (as vezes com motivo outras sem ) e aí eu não consigo me manter neutro, me sinto ferido, magoado a cada pequeno mal trato que recebo.... enfim.... E por outro lado, muitas vezes sou eu quem decepciono e aí fico triste comigo mesmo, o que leva a mais decepções, é um ciclo. Ainda bem que existem técnicas pra sair disso.

De qualquer forma assusta, de um jeito ou de outro. Maltratar e perceber que não está dando conta de expectativas que foram lançadas sobre mim ou expectativas que eu mesmo criei para mim e depois perder horar remoendo, revivendo, tentando mudar, tentando crescer, tentando não se importar com ofensas alheias... Assustador. Ou ser mal-tratado, entregar o que existe de mais bonito dentro de mim pra alguém e ser mal compreendido, maltratado. Frightening.

Agora começo a assentar melhor as coisas aqui dentro. Terça-feira plena, São João del Rei. Em alguns aspectos um lugar muito legal, em outros um lugar horrendo. Me sinto mais forte, mas a vontade comigo mesmo, só que queria ir embora. Voltar pra casa, achar um lugar só meu, começar realmente uma vida nova.

Inspirações diversas tem me baixado. Vontade de fazer várias coisas, criar, reviver emoções com velhos amigos, escrever, desenhar. Desenhar muito e ler muito. Cachecóis. E por trás disso tudo a eterna vontade de viver bem, de saber lidar com o que eu tenho chamado de THE MEANWHILE. The meanwhile seria algo tipo "O intervalo". Foi um título que dei que representa uma série de situações nas quais me sinto embaraçado. Meanwhile, ou intervalo, porque geralmente são situações que surgem nas minhas relações após um certo intervalo de tempo. Ou intervalo de espaço. Talvez eu seja de um jeito em um lugar e de outro jeito em outro lugar. É difícil expressar isso em palavras. Difícil tanto nas palavras faladas quanto nas escritas. É um troço maior do que palavras, porque me acompanha durante toda uma vida e vem lá do meu âmago.

Comecei a chamar de "The meanwhile" todos aqueles momentos em que não me sinto tranquilo, os quais não tenho força pra lidar, situações em que me sinto embaraçado. Situações em que me apresento mau humorado, ou desequilibrado, ou deprimido e pessoas que eu gosto ficam decepcionadas comigo. Situações em que eu me decepciono comigo mesmo. Situações em que sou deixado de escanteio. Situações em que me esforço ao máximo, mas o esforço no final das contas não representou nada, situações, que detesto, nas quais não sei resolver os problemas que se apresentam. 

Eu queria dar muito mais, só que as vezes a vida me força a dar algo que simplesmente não tenho, então uma grande dor nasce disso.

Sei lá.

Quero uma terça-feira plena, sem meanwhiles!