terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Antes de tentar desembaraçar em palavras esse emaranhado de pensamentos e sentimentos que se passam aqui dentro, acho que vale questionar um pouco o conceito de Natural. O que é natural afinal? Aquilo que não se encaixa em um sistema neoliberal e urbano? Aquilo que vem de Deus, ou que não sofreu alteração do homem? Natual pra mim é algo que acontece, algo fluído que se derrama sobre os acontecimentos. Algo que brota e não é forçado. Alguma coisa que a indústria não fez. 
Enfim.
Eu me sinto Naturalista. Quero Ser mais. Mais terra, mais amores, mais água pura, mais céu estrelado e imensidão abençoada. Mais sorrisos, café, música suave e beijo doce. Mais brincadeiras, baseados, abraços e arroz integral. Casa de campo, Minas Gerais, Chapada, chinelos. Pé na areia, horta e jardim, você perto de mim. Água da fonte, cavalo forte, vento no rosto enquanto caminha de biclicleta. Moinho, pão integral, doces de banana, D. Flor, Marla e D. Leonia. Brincadeira falada na lata, risada solta e frouxa. Sol na barriga enquanto medito, água corrente formando rios naturais, jardins formados por pedras esculpidas pelo tempo.

Tristeza.

Segundo alguns especialistas um sentimento que prepara o cérebro para os perigos vindouros. Natural? Só até o ponto em que não te engolfa, só até não paralisar a vida. A minha as vezes paralisa. Mas é natural também, está aqui dentro desde sempre. Desde sempre.... Primeiro a dor por não me sentir parte, depois por não me aceitar, a vegonha por achar que não sou tudo o que no fundo sonho ser. As partidas...Minha filha, mulheres encantadoras, amigos bonitos, eu mesmo... Dores que marcaram minha alma. As descobertas e as frustações. Perdas as quais eu não imaginava que teria que passar. 

Queria que certas coisas nunca tivessem acontecido. Minha separação é uma delas. Agora já não resta mais nada e ao mesmo tempo ainda resta tanto. É tanta coisa que tem que crescer aqui dentro e quanto mais corro atrás dessa fortaleza e desse crescimento, mais percebo o quanto ainda sou fraco. O quanto ainda a amo. O coração se divide, dá voltas e as vezes volta para o mesmo lugar. Voltei a chorar todos os dias. Depois de dois anos, tive a sorte de reencontrar uma pessoa muito das antigas, um namorinho da infância. Levado pela dor, me permiti viver uma ilusão de que estava finalmente encontrando o amor. Mas não durou muito. Infelizmente estou um pouco cansado de fingir que está tudo bem, de fechar os olhos pra coisas que me incomodam em nome do "Amor"... Já não sei mais nada. É um nó imenso. É uma pessoa a quem amo também, mas me sinto sufocado e as idéias não combinam muito e isso é tão... chato. É triste, mas preciso admitir, desabafar. É chato. Um amor meio forçado, baseado somente em duas crianças que se amaram e se reencontraram como adultos, mas que não tem nada a ver um com o outro e que estão ambos cheios de dor. Dor só trás mais dor. Não quero isso. É difícil admitir, assumir a dor da solidão. Mais uma perda! (Perda, e não perca, como ela irritantemente insistia em falar, errado e com lágrimas enquanto eu delicadamente tentava corrigir e me passava por chato. E logo em seguida mais um "perca" que tirava um pouco mais do meu tesão....).

Separo as maiores dores que já vivi em três categorias principais.... Abondono do meu pai, perda do contato diário com minha filha e a separação com alguém que amei profundamente. 

Meu pai mudou muito, se tornou uma pessoa sóbria, depois de inúmeros episódios de ausência alcoólica. Não sei a extensão dos traumas que tenho em função deste abandono, mas tenho um Amor e um Perdão guardados para o velho. Não nos falamos muito e o estreitamento dos laços tão sonhados por mim nessa vida, talvez nunca seja possível, mas sei que um dia ainda vou encontrá-lo e poderei dar um forte abraço e fazer qualquer coisa junto com ele e estará tudo certo. Simples assim. Sinto como se estivéssemos já velhos e cansados de errar, cansados de magoar e de ser magoados.

A Sarinha é o ser mais especial que já passou pela minha vida. E muito difícil olhar para mim mesmo e saber que não posso acompanhar o desenvolvimento da minha filha, por vários motivos, mas consigo ter ela receptiva. É minha melhor amiguinha, uma delícia de criança.

Separação se tornou um grande fantasma na minha vida, cheio de dores que eu sequer sabia existirem. Estou no caminho da superação, mas aqui dentro ainda tem tanta coisa. Simplesmente queria que nunca tivesse acontecido. Mas não posso forçar outra pessoa. Só aceitar. E amar. Acho que amarei sempre. Mesmo com a dor. Ter me envolvido com outra pessoa acabou me abrindo uma imensa compreensão da outra parte. É ruim ter alguém sentindo dor por sua causa. E é estranho, por mais que saibamos disso, não somos capazes de fazer nada. Apenas viver. Foda saber que há um pequeno prazer na dor, complexo demais pra alguém que queria somente uma simplicidade associada a uma complexidade compreendida. Por e de ambas partes. 

Uma complexidade compreendida significa encontrar uma pessoa que te confessa seus segredos. Que entende naturalmente aquele detalhe da música 11 da sua banda alternativa preferida, ou sabe aquele trecho do livro que você mais gosta. E a simplicidade é ter isso de maneira tranquila.

Mas quando a vejo ou lembro ainda choro tanto... Ainda tremo, faço caretas, falo bobagens, saio correndo. Ainda dói tanto! Quero parar de sentir essa raiva imensa de mim mesmo, que me paralisa, que me perturba, me magoa, me enerva... 

Só queria que tudo fosse simples de novo. Ela me vê e fala com o sujeito que está do meu lado morrendo de rir, mas finge que não estou ali. Beija outros na minha frente e faz exposições lindas. Sei que é cretinice o que estou sentindo, pois por mais que ela finja que não estive ali, tive um lugar muito especial no coração dela. E não, não perdi. Apenas não estou mais lá. O tempo passa e leva tudo!